Quem faz esse projeto é, ou deveria ser, um consultor independente, especializado em projetos geotécnicos. Cabe a ele definir as características das fundações que precisam ser seguidas pela empresa responsável por executar o projeto.
Assim costuma acontecer nas duas maiores cidades brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro. Essas duas metrópoles contam com boas empresas de projetos geotécnicos e experientes empresas de fundações.
E esses dois parceiros (projetistas e executores de fundações) costumam trabalhar em sintonia, como revela Milton Golombek, diretor da Consultrix, tradicional empresa de projetos, sócia da ABEG.
“Nós, projetistas, trabalhamos muito bem com os executores de fundações, especialmente em mercados como o de São Paulo e do Rio”, relata Golombek. “Há um compromisso informal entre as entidades que representam esses dois setores – a ABEG, que fala em nome dos projetistas, e a ABEF (Associação Brasileira de Engenharia de Fundações), que representa os executores, – no sentido de dividir responsabilidades e funções”.
Para o empresário, há um consenso de que as funções técnicas de uns e outros estão bem equacionadas. “Ninguém entende de projeto geotécnico como os projetistas”, argumenta o diretor da ABEG. Além do projeto, o profissional dessa área também faz muitas vezes o acompanhamento da obra – uma tarefa essencial para o bom andamento do trabalho. Da mesma forma, o executor de fundações reúne know-how e conhecimentos únicos, ele acredita.
Esse cenário relativamente harmônico nas duas principais regiões metropolitanas do país muda completamente em outras regiões. “Entra em cena, na maioria das vezes, empresas e profissionais do gênero ‘faz tudo’”, explica Golombek. Uma única empresa faz o projeto, executa as fundações, fiscaliza a obra e desempenha outras tarefas durante a construção. O resultado fica estampado em obras que precisam de retrabalho, reinvestimentos ou que terminam abandonadas. Sem contar os casos de colapso que acontecem pelo país.
“O desafio histórico da ABEG”, explica o presidente da Associação, Ilan D. Gotlieb, “é fazer ver aos donos dos empreendimentos a importância de um projeto de fundações de acordo com as melhores especificações e com elevados padrões técnicos”. E isso só é possível, segundo ele, com a “participação no empreendimento de consultores independentes, com histórico, currículo, reputação e conhecimento específico”.
Diante da prolongada crise econômica que se abateu sobre o país e que afetou profundamente o setor de construção civil, outro problema que surgiu no setor de projetos de fundações e geotecnia diz respeito à concorrência entre empresas feita em termos pouco profissionais.
“Diante de concorrências cujo único fator é o preço”, explica Milton Golombek, “a qualidade fica em plano secundário, com prejuízos para o contratante, para a obra e para a sociedade como um todo”.
O presidente da ABEG considera, nesse sentido, que é preciso uma tomada de consciência por parte de todos os participantes do mercado de que “o barato sai caro”. “O projeto geotécnico já representa uma fração mínima do orçamento de uma obra”, explica Ilan Gotlieb. “Não faz sentido economizar na fundação, correndo o risco de colocar tudo a perder”. Golombek segue na mesma linha e vai além: “não faz sentido contratar projeto de fundação pelo preço; a qualidade deve vir em primeiríssimo lugar”.
A intenção da ABEG é reunir projetistas, calculistas e executores para somar forças e energias, mobilizando todo o segmento para um processo de conscientização de toda a sociedade que comece hoje e não tenha prazo para acabar. “Vamos ouvir agora os executores e divulgar aqui, nos canais da ABEG, as avaliações desses nossos colegas”, afirma Ilan. “Precisamos do apoio de todos para elevar a qualidade da construção em nosso país”.